Eu era criança e a encenação era da paixão e morte de Cristo na igreja que tinha perto da casa da minha tia, onde eu estava por causa do feriado.
Tudo ia bem, Jesus já estava condenado, já havia cumprido a pena e já estava morto quando o soldado foi furar seu corpo com a lança, na cena clássica. Nesse momento, tudo mudou. Alguém saiu da platéia e deu um soco no rosto do ator que fazia o papel de soldado.
Confusão desfeita, a peça continuou e eu nunca mais tive notícia sobre aquela noite. De tempos em tempos, por muitas vezes fui assaltado pela dúvida sobre o que levou aquele espectador a um ato tão inusitado.
Entre muitas conjecturas, ainda acho que foi uma espécie de reação demorada diante de um ato de injustiça, mas já era tarde demais.